domingo, 1 de fevereiro de 2015

A Importância do Décimo Mandamento

Desobediência - O jovem rico cobiçava a sua riqueza.
Obediência - Jônatas não tinha inveja de David.

Sl 119.36 "Inclina-me o coração aos teus testemunhos, e não à cobiça".

Parece que vivemos na terra da fantasia! Enquanto se discute, no Congresso, a legalização do jogo, [1] o jogo legalizado no Brasil [2] já movimenta 3,8 bilhões de dólares por mês. Estima-se, em adição, que os cassinos clandestinos que existem nas grandes cidades, chegam a movimentar mais 1 bilhão de dólares. [3] Essas estatísticas são provavelmente conservadoras. A soma de dinheiro que corre nos jogos de azar deve ser bem maior e não existem números confiáveis sobre o "jogo do bicho" nem sobre as inúmeras casas de "bingo" que proliferam nas grandes cidades brasileiras. Todos os dias inúmeras pessoas se submetem às filas que se formam nas "loterias", de olho nos prêmios milionários que se acumulam, cobiçando os valores fantásticos anunciados. Na expectativa, esperança e ilusão de resolverem todos os seus problemas pela "sorte", contribuem, na realidade, para o desvio de riquezas para os poucos que administram a jogatina e para um envolvimento clandestino e lucrativo com a corrução e criminalidade.

Nos Estados Unidos, até algumas décadas atrás, o jogo estava praticamente segregado ao estado de Nevada, na cidade de Las Vegas. Atualmente além da expansão dos cassinos para várias outras cidades, 37 dos 51 estados possuem suas próprias loterias "oficiais". Os norte-americanos gastam anualmente 638,6 bilhões de dólares com a jogatina. [4] Isso é mais do que o Produto Interno Bruto da maioria dos países, inclusive o do Brasil. O jogo é tão generalizado, naquele país, que é comum e não choca a existência de inúmeros bingos beneficentes sistemáticos (normalmente aos sábados) em igrejas católicas, anunciados em grandes faixas colocadas. Estima-se que os freqüentadores desses "bingos" de igrejas, perdem cerca de 1,6 bilhões de dólares por ano. É o paradoxo de igrejas, utilizando a cobiça, para atrair pessoas e fundos às suas atividades. O grande alvo dos cassinos, atualmente, são as pessoas idosas. Excursões e caravanas de ônibus funcionam sistematicamente, partindo para os centros de jogo cheios de pessoas ávidas por ganho fácil e diversão barata, mas muitas acumulam desilusões e vão na esperança de reaver perdas anteriores. Só de Nova York, para a cidade de Atlantic City, que legalizou cassinos em 1976, saem 9 milhões de pessoas por ano, em caravanas de ônibus. O domingo é o dia mais agitado da semana. [5]

            O vício do jogo faz com que pessoas que não possuem um passado de criminalidade, passem a emitir cheques sem fundos ou roubar dinheiro de parentes. Descontrolados, esses apostadores perdem seus empregos, seus veículos, suas propriedades, seus cônjuges, e às vezes terminam na prisão ou se suicidando. [6]

            Mas não é somente o jogo e o vício que cega as pessoas. A cobiça é força motivadora de muitas ações, quando se perde o objetivo maior de se servir a Deus e de usufruir a felicidade como uma conseqüência da nossa lealdade a Ele. A força da cobiça pode mover o homem mais rico do mundo para querer tornar-se mais rico e mais poderoso ainda, atropelando pessoas e empresas pequenas, comprando muitas, só para fechá-las, de tal forma que os seus objetivos não sejam contrariados. [7] A força da cobiça pode estar presente também no mais pobre dos homens, quando não enxerga que a solução dos seus problemas está primariamente nas mãos de Deus e não na obtenção dos bens materiais que não tem. A força da cobiça se apresenta nos anúncios que apelam ao desejo do lucro ilegítimo, como um e-mail que circula por aí, oferecendo ganhos irreais e volumosos, quando o objetivo real é a venda de um banco de dados de nomes sem qualquer perspectiva de ganhos reais para o comprador. A força da cobiça é reconhecida e utilizada nas formas mais distintas, até nas igrejas - não são somente naquelas, que mencionamos, que utilizam os "bingos" como atração semanal, mas também naquelas, que estão entre nós, que apelam às bênçãos materiais e à promessa de ampla prosperidade materiais aos seus fiéis, como chamariz para seus trabalhos.

O que leva pais de família e pessoas que têm necessidades básicas não atendidas a se envolver com o jogo? O que faz com que o pão seja tirado dos filhos para que o vício do jogo seja atendido? O que joga em uma vala comum milionários, pobres carentes e comerciantes inescrupulosos? Certamente o descaso pelas coisas realmente importantes e que contam - a vida espiritual e o relacionamento com Deus; o ávido desejo de se ter o que não se tem; a idéia de amealhar riquezas; o pensamento de que o dinheiro e os bens materiais resolverão os problemas e carências experimentadas. Tudo isso representa a quebra direta do décimo mandamento: "Não cobiçarás".

O décimo mandamento trata de uma atitude interna de cada pessoa. Esse mandamento, na realidade, interpreta todos os demais ensinando-nos a guardar a lei de Deus em nossos corações. Um outro importante aspecto do décimo mandamento é que a cobiça está por trás da maioria dos pecados cometidos. Ela cega os nossos olhos para as prioridades de vida, como fez com o jovem rico. Por outro lado, é perfeitamente possível termos contentamento com o que Deus nos agracia e nas situações em que ele nos coloca. Devemos, como Jônatas, viver sem inveja, com sentimentos sinceros em nossos corações. Deus nos chama a um comprometimento interno em uma vida de obediência aos seus preceitos.

O décimo mandamento é aquele que manifesta o espírito da lei concedida por Deus. Vamos explicar essa afirmação: todos os nove mandamentos que o precedem podem, aparentemente, ser avaliados pelas pessoas por atos externos. Isto é - alguém pode dar a aparência de adorar a Deus, por se envolver nos cultos da igreja; ou de  não defraudar ao próximo, mas fazendo isso às escondidas; e assim por diante, com cada um dos mandamentos, até o décimo. Se isso ocorre com alguém, enquanto aparenta uma coisa, tem outra completamente diferente no coração.

A quebra do décimo mandamento, no entanto, se inicia e termina no coração de cada um. Ninguém pode olhar para você e dizer se você está ou não cobiçando. Mas Deus sabe e conhece o seu interior.

Quando alguém externa a cobiça, invariavelmente está quebrando algum dos outros nove mandamentos, especialmente aqueles relacionados com nossos deveres para com o nosso próximo. Pense no estudo dos últimos capítulos, sobre os mandamentos cinco a nove, e constatará que realmente a cobiça e a inveja foi o fator motivador e o passo principal na quebra dos outros mandamentos. Quando lemos Mc 15.10 vemos como a inveja está por trás do falso testemunho prestado pelos sacerdotes contra Jesus: "Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado..."

O décimo mandamento, portanto, nos ensina que Deus olha no nosso íntimo. Isso tem um significado importantíssimo. Mostra que com cada um dos demais mandamentos, é exatamente dessa maneira que eles são adequadamente cumpridos - em nossos corações. É assim que Deus quer que venhamos