quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

CONHECER O PAI CELESTIAL

“Nunca O conheci como um Deus de Amor”

         “Nunca O conheci como um Deus de Amor”. Esta foi a declaração daquele homem idoso no dia em que o pastor o visitou. Um leigo ativo que, por anos, havia sido o único ancião da pequena congregação. Nos tempos recentes ele estivera pregando mais e mais, visto que o distrito crescera e o pastor dependia dos anciãos para pregarem em sua ausência.

         Ele era idoso, jubilado, com tempo para dar. Por anos havia mantido a congregação sob suas asas, como se fosse sua. Era como um pai para ela, mas não um pai bondoso. Começaram a aparecer reclamações quanto a sua pregação dura do púlpito. Não apenas ele era o primeiro ancião, mas o diminuto grupo havia feito dele seu tesoureiro também. Portanto, quando os dízimos e as ofertas diminuíram em um determinado período difícil na pequena igreja, ele tirou proveito de sua posição de tesoureiro. Afrontou os membros, censurando-os por deixarem de seguir a ordem que Deus dera em Malaquias: “trazei todos os dízimos à casa do tesouro”. Ele os açoitava por sua óbvia ingratidão para com Deus, destacando o decréscimo nas ofertas voluntárias. Repetidas vezes, usou seu discurso violento contra as pessoas e sua falta de conhecimento da Bíblia, por chegarem atrasados, pelo fato de não estarem cantando com alegria e suficientemente alto. Quando o rosto os membros mostravam no semblante que estavam tristes, ele franzia e testa e os admoestava dizendo que deveriam estar sorrindo, que deveriam ser cristãos felizes para testemunharem ao mundo inteiro.

         A situação atingiu seu ponto crítico. Os membros antes assíduos na igreja, estavam notoriamente ausentes. Normalmente, os visitantes não retornavam. Alguns membros reclamavam: “Ele nunca prega a respeito do amor de Deus”. “Por favor, pastor,”  pediu uma viúva idosa, “não permita que esse homem continue pregando. Ele tem a igreja na palma da sua mão e a está apertando de tal forma que o suco lhe está correndo por entre os dedos!”

         Este foi o motivo da visita e o dia em que a história se tornou conhecida. Quando o pastor falou a respeito do desejo dos membros de ouvirem mais sermões a respeito do amor de Deus, aquele idoso ancião rompeu em lágrimas. Quase imediatamente, começou a contar a história de um menino e de seu pai. Ao que parece o menino tentara constantemente chamar a atenção de seu pai, mas era sempre desprezado. Ele nunca ouvia palavras bondosas ou de apreciação de seu pai, mesmo quando tirava boas notas na escola, mesmo quando cumpria suas tarefas fielmente. Ele desejava tanto receber um toque carinhoso, um abraço, um tapinha nas costas. Mas não, seu pai sempre o empurrava, até mesmo o chutava, dizendo-lhe para afastar-se – pois não tinha tempo para brincadeiras estúpidas. Ainda, certificava-se de que o menino fizera o dever de casa e outras tarefas.

         O pastor ouviu, ficou tocado pela história, e curioso quanto a seu objetivo e propósito. Não sabia que esta era a história do ancião! Ele nunca afirmou, mas era vidente – pela descrição íntima, pelos detalhes que ocorreram mais de setenta anos atrás, pelas lágrimas que rolavam enquanto a história era contada. Como se ele estivera presente, como se os fatos tivessem acontecidos no dia anterior, o idoso prosseguiu falando do menino e de sua triste situação, ainda usando os pronomes na terceira pessoa. Então, abruptamente, passou para a primeira pessoa: “Eles dizem que Deus é um Deus de amor. Nunca o conheci como um Deus de amor”.

Visto pelos olhos de uma criança

         Muitas coisas passaram a fazer sentido para o pastor. O velho ditado: “O que se planta se colhe”, é verdade. O ancião era o menino, que buscara desesperadamente o amor, a bondade e a afeição, e que crescera e envelhecera. A vida no lar havia moldado-lhe a visão do mundo, especialmente sua visão do mundo espiritual. ...

         Para as crianças Deus é primeiro compreendido na imagem dos pais, especialmente a do pai. Isto não é difícil de ser compreendido. Toda pessoa que é maior e mais velha e em posição de autoridade é vista pelas crianças através das lentes dos adultos mais próximos delas. Quem são os adultos a quem elas conhecem? Seus pais. Portanto, a pessoa de Deus, a criança raciocina, deve ser como minha mãe e pai. Visto que chamam a Deus de “Pai”, Ele deve ser semelhante ao pai que conhecem na terra.

         É importante que nos coloquemos e enxerguemos através dos olhos da criança. Estas são duas das afirmações mais profundas que encontramos a respeito de como as crianças chegam a conclusões a respeito de seu mundo, especialmente do mundo espiritual. A primeira é do professor de psiquiatria da Harvard, Armand Nicholi:

                  As experiências iniciais em nossa vida determinam nossa estrutura de caráter na vida adulta, o retrato interior que temos de nós mesmos, como vemos e sentimos a respeito dos outros; nosso conceito de certo e de errado, nossa capacidade de estabelecer relacionamentos íntimos, amorosos e de apoio necessários para termos nossa própria família; nossa atitude para com a
autoridade e para com a Autoridade Máxima em nossa vida; e a forma como tentamos fazer sentido em nossa existência. Nenhuma interação humana exerce maior impacto em nossa vida do que a experiência na família. (Nicholi II, 1979, p. 11.)

         O segundo comentário é do livro How to Raise Confident Children, de Richard Strauss:

                  A imagem que a pessoa faz de Deus é muitas vezes moldada de acordo com a imagem que faz de si mesma e dos pais, especialmente do pai. Se os pais são felizes, amorosos, aceitadores e perdoadores, a pessoa tem maior facilidade para viver um relacionamento positivo e satisfatório com Deus. Porém, se os pais são frios e indiferentes, ela pode sentir que Deus está distante e não tem interesse por ela. Se os pais são irados, hostis e a rejeitam ela, muitas vezes, sente que Deus nunca poderá aceitá-la. Se os pais forem difíceis de serem agradados, normalmente essa pessoa tem uma noção de que Deus também não está muito feliz com ela. (Strauss, 1975, pp. 23, 24.)

         O que a história do ancião nos revelou foi que a vida em seu lar era-lhe difícil quando menino. Os relacionamentos não eram bons. O amor paterno quase não era manifestado, e outras vezes confuso e, na concepção do menino, inexistente. Talvez seus pais fossem prontos para dizer que realmente o amavam – eles lhe davam um teto sobre a cabeça, não era óbvio? Davam-lhe roupas, alimentos – talvez não tanto quanto ele desejava – mas os tempos eram difíceis. Talvez o pai e a mãe fossem obrigados a trabalhar fora do lar para manter a família. Talvez houvesse outros filhos com quem precisassem dividir a atenção; talvez mais filhos do que eles realmente tinham capacidade de amar.

         A questão é que o menino não se sentia de fato amado e o sentimento de desafeto tomou conta dele. O tempo passou e ele ficou embebido nesse sentimento.
         É difícil amar os outros quando a pessoa não se sente amada. É o mesmo que querer apertar e tirar água de uma esponja seca. Não há nada a partilhar; nem mesmo o suficiente para manter a esponja com suas propriedades. As atitudes dele como líder espiritual na igreja refletiam a visão que tinha de si mesmo, das pessoas e dos relacionamentos e, por fim, o que ele disse e fez refletiam sua visão de Deus. Não amado. Deus não era amoroso. Aquele ancião se tornara para a congregação o que seu pai fora para ele -- severo, ditatorial, exigente, desamorável. Ele não podia falar do amor de Deus, porque não O conhecia como um ser de amor. Pense nisto – ele não conseguia captar esse amor, não conseguia ver sentido em um dos textos centrais da Bíblia: “Deus é amor” (I João 4:8, 16). “Eles dizem que Deus é um Deus de amor”, ele lamentava. “Eles dizem ...” “Porém, eu nunca O conheci como um Deus de amor”. Ele conseguia ver o relato de Deus como um Deus de amor para os outros, mas isso não era algo com o qual podia pessoalmente conectar-se.

         A palavra de ânimo referente à experiência desse ancião é que o fato de contar sua história naquele dia foi algo que propiciou uma mudança em sua vida. Ao ouvir a si mesmo contar sua infância triste, fez com que compreendesse algumas questões pessoais e os efeitos negativos sobre as outras pessoas; a pessoa que realizou a cerimônia fúnebre desse homem, anos depois, disse que ele se tornara uma pessoa muito mais amorosa. Conseguiu experimentar mais do amor de Deus.

Encontro com o Pai Celestial

         Penso naqueles cuja história de vida possa ser parecida, que podem também dizer como o ancião: “Nunca conheci a Deus como um Deus de amor”. Ou, “Quem dera pudesse conhecer melhor a Deus”, “Quem dera pudesse sentir-Lhe mais o amor”. Ou, “Tenho filhos e gostaria de saber como ajudá-los a conhecer a Deus como um Deus de amor”. Talvez os problemas no lar, mesmo na igreja, impedem-no de ver a Deus, separam-no do círculo radiante de Seu amor e assim você permanece frio. Infelizmente, muitos jovens tiveram pais, pessoas que deles cuidaram, professores e mesmo, algumas vezes, mentores espirituais que apresentaram mensagens confusas a respeito de Deus e da vida espiritual. Quando se tornaram adultos, alguns permaneceram na igreja, tentando fazer com que a vida espiritual funcionasse; alguns deram uma pausa; outros se desviaram e ainda outros a deixaram por completo. Foi-lhes difícil conhecer a Deus como um Deus de amor.

         Tive o privilégio de batizar meu pai poucos anos atrás antes de sua morte. Desde sua juventude e durante toda minha vida e por mais de 25 anos depois que deixei a casa de meus pais, ele evitava ter qualquer coisa que ver com religião, com a leitura da Bíblia, com a oração, com tudo o que se relacionasse com igreja, especialmente com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a igreja de seus pais. Imagino como aqueles anos devem ter sido difíceis para ele; eram muitas vezes difíceis para nós com quem ele vivia. Sabia que seus pais, meus avós, dedicavam-se intensamente e estavam totalmente absorvidos pela igreja quando ele era pequeno. Pais/igreja, igreja/pais – era a mesma coisa para ele. Portanto, quando foi profundamente magoado pelas experiências da família e buscou fugir delas ao romper os laços com os pais e com a maioria de seus muitos irmãos, desligou-se também da Igreja.

         Tarde na vida, seu coração inclinou-se para Deus e para a reconciliação. Um pastor amoroso, que conhecia a Deus e a Seu amor, percebeu isto e captou as profundas necessidades do coração de meu pai – necessidade do amor de Deus, de Sua bondade, de aceitação, de perdão e libertação das mágoas do passado, de relacionamentos com pessoas que provaram o amor de Deus. Ele procurou meu pai, um carpinteiro e construtor, e pediu-lhe ajuda – disse-lhe que precisava de seus serviços na construção de uma nova igreja. Meu pai gostou desse homem. Não apenas conduziu o projeto de construção, mas lançou-se a ele de tal forma que demonstrou a mudança que estava ocorrendo. Creio que nele se estabeleceu a idéia de que estava construindo uma casa para Deus. E quando estivesse pronta, iria prestar culto ali. Pouco tempo depois, recebi uma ligação, certa noite, dizendo que meu pai desejava que eu o batizasse. Finalmente! Que alegria!

         A história do ancião da igreja, de meu pai ... não são únicas. Há outras pessoas para quem o gosto deixado na boca – quer na vida no lar ou nas experiências sofridas na igreja, onde se espera mais do que se recebe – é amargo. Talvez você sinta que foi usado, vitimado ou talvez simplesmente desconsiderado e esquecido. Talvez as recordações deixadas pelos pais dificultem, ou até mesmo impossibilitem-no de orar, muito menos de chamar a Deus de “Pai”.

         Tenho um conceito e parte dele foi extraído de várias fontes. A primeira, encontrei em um livro titulado The Embrace of God (O Abraço de Deus). Nele, o psicólogo clínico, Lloyd Erickson ministra amoravelmente àqueles para quem a palavra “pai” representa tristes recordações. Sempre com muito tato, ele elimina as imagens negativas de Deus que formamos em nossa mente e introduz outras, cuidadosamente, levando o leitor a um relacionamento com uma Pessoa afetuosa e amorosa. Erickson remove o artigo “o” de tal forma que Deus é “Pai Celestial”, em vez de o Pai Celestial. (Fiquei surpreso com a diferença que essa pequena mudança produziu.) O Pai Celestial deseja envolver seu coração como ninguém antes o fez.

         Outra fonte captou minha imaginação – o artigo chamado: “Vizinho Guardião”, de Lynda Barry, em uma edição especial da Newsweek. Ela narra fatos ruins em seu lar quando estava crescendo. Então uma família se mudou para sua vizinhança onde os pais se amavam e davam evidência disso. A vida dessa família a atraiu como um imã, e ela era bem-vinda no lar deles sempre que desejasse. Certa vez, presenciou o casal partilhando de um momento de afeição. “E isso foi tudo o que eu necessitei ver”, ela escreveu. “Precisei ver apenas uma vez para poder ser capaz de crer pelo resto de minha vida que a felicidade entre duas pessoas pode existir”.

         Esses pensamentos foram mesclados com o convite feito por João, o discípulo cujo coração frio foi aquecido pelo amor de Deus, manifestado em Cristo, em uma de suas cartas:

                  Desde o primeiro dia, estávamos lá, absorvendo tudo – ouvimos com nossos próprios ouvidos, vimos com nossos próprios olhos, verificamos com nossas próprias mãos. A Palavra da Vida apareceu diante de nossos olhos; vimos acontecer! E agora contamos-lhes, de forma mais moderada, que aquilo que testemunhamos foi, inacreditavelmente, isto: A Vida do próprio Deus infinito Se materializou diante de nós!

                  Nós vimos, ouvimos e agora lhes estamos dizendo a fim de que vocês possam ter a mesma experiência conosco, a experiência da comunhão com o Pai e Seu Filho, Jesus Cristo. Nosso motivo para escrever é simplesmente este: Desejos que você também aprecie isto. Sua alegria irá dobrar a nossa alegria!  (I João 1:1-4, The Message).

          O pensamento que me veio à mente é: Um Pai amoroso, espontaneamente afetuoso mudou para nossa vizinhança. Ele abriu totalmente as portas da Sua residência, convidando a todos os transeuntes. Há amor onde Ele está! Se você não experimentou o amor antes, irá encontrá-lo lá. Você precisa apenas encontrá-Lo e isto irá transformar sua vida para sempre. Ele deseja prover uma nova experiência de paternidade para aqueles cuja vida foi difícil e com recordações dolorosas. Na verdade, Seu lar está aberto a todos! Aqueles que já tiveram essa experiência, gostaram do que encontraram.
         Ouça o que a Escritura diz:

         A Palavra se fez carne e sangue,
                  e mudou-se para a vizinhança.
         Vimos a glória com nossos próprios olhos,
                  a glória do Unigênito,
                  tal Pai, tal Filho,
         Generoso por dentro e por fora,
                  verdadeiro do início ao fim. (João 1:14, The Message)

         Deus oferece essa experiência de família por intermédio de Seu Filho, Jesus, que é semelhante ao Pai Celestial (cf. João 14:9). Os profetas usaram “Pai” como uma metáfora. Deus era o Pai da nação. Mas Jesus O chamou de Deus “Pai”, pela primeira vez na história do mundo, dando a idéia de que Deus é um Pai que busca ter relacionamento pessoal íntimo com cada pessoa na terra, como Seu filho. Jesus deseja apresentar a cada um de nós a Deus, Seu Pai, nosso Pai (cf. João 20:17).

         Não espere. Pegue sua Bíblia e, talvez usando uma versão moderna, caminhe com Jesus nas páginas dos Evangelhos. Ouça-O falando. Permita-Lhe apresentá-lo ao Pai Celestial. Talvez você se pegue dizendo: “Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava”? (cf. Lucas 24:32).

         Deus conhece cada circunstância de nossa vida. Sabe, exatamente, onde nos encontramos hoje. Ele ama com amor eterno. Em Jesus, Deus Se encurva para sussurrar no ouvido de cada pessoa cuja experiência familiar – em casa, na igreja, ou em outro lugar – tenha sido difícil. “Eu o amo”, Ele diz. E é verdadeiro. Ele o ama. Você pode confiar nisso.

Fazer Apresentações

         O choro angustiado do idoso ancião da igreja: “Eu nunca conheci a Deus como um Deus de amor” toca o coração de cada pai. Com a breve noção que temos de sua história, simplesmente sentimos que algo importante na criação dos filhos não esteve presente no lar onde ele cresceu. É muito triste que não possamos entrevistar esse ancião ou meu pai para ouvir-lhes o conselho quanto à paternidade. Mas, através da Escritura e da experiência podemos ter noção do que iria aumentar a possibilidade de que as crianças de hoje tenham maior possibilidade de conhecer o Pai Celestial.

         Ame a Deus e partilhe sua paixão. A grande passagem a respeito da criação de filhos escrita por Moisés, em Deuteronômio, diz: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te” (6:5-7). Na minha infância havia uma frase comum que os pais usavam com seus filhos: “Não faça o que eu faço, mas faça o que eu falo”. A despeito do propósito, isso não funciona. Os filhos fazem aquilo que fazemos. Os valores são mais captados do que ensinados.

         Washington, D.C., onde residimos, é uma grande cidade esportiva e atualmente está havendo o campeonato de futebol americano. Nos domingos, vemos carros lotados de fãs dirigindo-se ao estádio. Muitas vezes eles são festivos – pintados nas cores ou vestindo as insígnias do time. As flâmulas do time muitas vezes estão presas às antenas do rádio ou em hastes próprias para essa ocasião. Os pais vestem a camiseta do time. Essas roupas esportivas também são confeccionadas para as crianças e estas se vestem como os pais. As crianças tendem a estar muito interessadas por aquilo que os pais estão apaixonados. Elas irão captar nosso entusiasmo por Deus, assim como captam nosso zelo pelos esportes.

         O amor no nível do sentimento. Por anos levei em minha Bíblia o seguinte comentário do fundador e orador de A Voz da Profecia, H. M. S. Richards, feito em uma reunião campal a que assisti: “Ninguém jamais entrará no reino de Deus se não amar”. Em João 13:35, as considerações de Jesus a respeito do discipulado tratam do amor e de amar. “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros”. As pessoas estão famintas de amor. As pesquisas feitas com aqueles que deixaram de freqüentar a igreja mostram que muitas vezes não se afastaram em decorrência das doutrinas. Muitos, na verdade, ainda conhecem os ensinos básicos da Igreja e ainda se consideram adventistas do sétimo dia, pelo menos no que diz respeito às crenças. Então, o que aconteceu? Por que deixaram a igreja? Eles dizem que não encontraram amizade na igreja. O conhecimento das doutrinas é importante (cf. Tito 2:1), mas a amizade reflete mais a necessidade de relacionamentos nos quais a pessoa se sente amada e considerada (Atos 2:42; I João 1:3-7).

         Onde aprendemos a amar? Aprendemos em primeiro lugar e de forma mais essencial a respeito do amor na família onde crescemos. As crianças necessitam de pais que as amem no nível dos sentimentos.

                  Caso penetrassem os pais mais plenamente no sentimento dos filhos e verificassem o que lhes está no coração, isto exerceria sobre eles uma influência benéfica. (O Lar Adventista, p. 190).

         Na verdade, a capacidade para o amor se desenvolve melhor nos primeiros anos. Um jovem casal amigo nosso está ensinando três línguas a seu filho de dois anos. O pai fala com ele em norueguês, a mãe em francês, e o filho aprende inglês com as pessoas que visitam a casa, com os amiguinhos com quem brinca e na Escola Sabatina. O desenvolvimento do cérebro de uma criança pequena é fenomenal. Nesse período é quando sua capacidade para amar é estabelecida melhor. Os mais velhos também podem aprender a amar, mas, assim como ocorre no caso da língua, o processo tende a ser mais difícil.

         Estabeleça amizade com seu filho. Os pais não podem ser os “melhores amigos” dos filhos visto que há uma devida barreira geracional entre pais e filhos que é fundamental que seja mantida assim. No entanto, os pais podem e devem ser amigos dos filhos -- conversarem, brincarem, trabalharem juntos, divertirem-se na companhia um do outro.

                  Os pais devem proteger os filhos por meio de instruções sábias e valiosas. Como os melhores amigos desses seres inexperientes, devem ajudá-los a vencer a tentação, porque ser vitoriosos é quase sempre a sua sincera ambição (Orientação da Criança, p. 496, itálico acrescentado).

         Pergunte a si mesmo, realmente gosto dessa pessoa – meu filho? Jesus cultivou amizade por Seus discípulos. “Já não vos chamo servos, ... mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer“ (João 15:15). Os discípulos podiam arriscar-se a serem plenamente conhecidos em sua intimidade porque com Jesus havia aceitação imediata e total certeza de que, quer em suas fraquezas ou pontos fortes, eram plenamente amados. Posteriormente, compreenderam que Aquele que os amara e com quem mantiveram amizade era o próprio Deus, que viveu entre eles (cf. João 1:1, 14). Quando nos relacionamos com nossos filhos como amigos, isto faz com que consigam captar como podem ter um relacionamento amigo com Deus por meio de Jesus Cristo.

         Que o seu casamento aqueça sua família. Quando o amor de Cristo torna o casamento fragrante, seu amor permeará toda a família. David e Vera Mace, fundadores do movimento para o fortalecimento do casamento, escreveram: “A mútua afeição entre marido e mulher será para a família o que o sistema de aquecimento é para a casa. Manterá o relacionamento de todos os membros da família em uma atmosfera agradável e confortável” (Mace, 1985, p. 109).

         Lembro-me de vários invernos rigorosos enquanto eu crescia no leste do Canadá. Em nossa casa da fazenda tínhamos um forno a lenha cujo calor era forçado para cima através de uma grelha posicionada entre a cozinha e a sala de estar. Todos costumávamos nos revezar junto à grelha a fim de permitir que o calor intenso penetrasse nossos ossos enregelados. Penso na capacidade daquele forno de nos manter aquecidos quando considero os pensamentos de David Mace.

         Ellen White incentivou as expressões de ternura e afeição entre marido e mulher. Note o feito direto que essa ternura pode exercer sobre os filhos: “Se tão-somente marido e esposa continuassem a cultivar essas atenções que alimentam o amor, seriam felizes na companhia mútua e teriam sobre a família uma influência santificadora” (Mente, Caráter e Personalidade, vol. 1, p. 158).

         Algumas dessas “atenções que alimentam o amor” podem ser tão simples quanto: *Palavras amáveis de apreciação, um toque gentil, um sorriso feliz oferecido um ao outro na presença dos filhos. *Bilhetinhos escritos um para o outro, dos quais os filhos tomam conhecimento e que podem ser lidos quando estão presentes. *Um presente aberto enquanto o filho observa – talvez uma surpresa romântica planejada um para o outro com a ajuda dos filhos.

         Mesmo sob circunstância onde eles vivem apenas com o pai ou com a mãe depois do divórcio ou separação, os filhos monitoram o relacionamento entre seus pais. Os filhos continuam sentido necessidade de que o pai e a mãe demonstrem atitudes respeitosas entre si.

         Trata-se da devida apresentação. O evangelho de João capta a exuberância de André quando se encontra com o Salvador. “Ele [André] achou primeiro o seu próprio irmão, Simão ...” (João 1:40-42). André ficou entusiasmado ao saber que Jesus era o Messias. Isto é algo normal quando alguém tem de fato boas novas. Estas não podem ser contidas; simplesmente devem ser transmitidas àqueles que nos são queridos e que estão perto de nós. André foi além de apenas dar a informação, ele providenciou para que Simão (a quem Jesus chamou de “Pedro”) fosse apresentado a Jesus. Um relatório entusiástico a respeito de Jesus e a apresentação a Ele em pessoa – que fórmula simples para partilhar o evangelho com as crianças em nosso lar! Depois da apresentação, André retirou-se. A partir daí, Jesus e Pedro mantiveram um relacionamento único entre si. Os pais são discípulos que fazem discípulos. Nossa principal tarefa, acima de todas, é apresentar nossos filhos ao “Pai Celestial”. Ele e nossos filhos seguirão a partir daí.


Conclusão

         Os filhos em casa podem, muitas vezes, serem visto como recipientes moldados para os esforços de propagar o evangelho. De forma equivocada, os pais presumem que os filhos simplesmente irão absorver a espiritualidade da família. Isto não deve ser considerado dessa forma; embora os filhos pequenos e jovens aprendem do modelo que observam, também é verdade que esses membros mais novos na família do Senhor necessitam de atenção individual e de oportunidades de serem pessoalmente apresentados a Ele. Que venhamos a nos comprometer a dedicar tempo e os mais sinceros esforços em favor das crianças e dos jovens a fim de que a próxima geração possa conhecer o Pai Celestial e se tornarem pessoas de fé.
 Por Ron Flowers

Referências

Barry, L. “Guardian Neighbor”, Newsweek, Edição Especial, Verão de 1991.

Erickson, M. L. (1996). The embrace of God. Minneapolis, MN: Bethany House Publishers.

Mace, D. & Mace, V. (1985). In the Presence of God. Philadelphia: The Westminster Press.

Nichol II, A. (1979). “The fractured family: Following it into the future”. Christianity Today, 25 de maio.

Strauss, R. L. (1975). How to raise confident children. Grand Rapids, MI: Baker Book House.

White, E. G. Mente Caráter e Personalidade, CD-Rom.

White, E. G. Orientação da Criança, CD-Rom.


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