terça-feira, 11 de setembro de 2012

Paciência, O Trabalho Perfeito de Deus

Nesta fase do processo ascendente – a santificação – é essencial lembrar que esta é totalmente obra da fé. Só na medida em que fazemos a nossa parte – reconhecendo os obstáculos e os factores contrários e tomando consciência de que não os podemos remover por nós mesmos – é que pomos em acção o poder da vontade e escolhemos libertar-nos desses escolhos. Só então Deus poderá realizar a Sua obra nós. Ele nunca força a vontade, mas espera que a usemos para Lhe darmos permissão para os remover. Acabámos de descobrir que, se esse trabalho for feito, terá que ser Deus a fazê-lo. Lembre-se, nós não temos “sabedoria ou a força para vencer” (AA, pág. 532) o mal. Isso deve estar bem claro na mente ao enfrentarmos cada fase.
Pedro diz: “...acrescentando... à temperança a piedade...” II Pedro 1:6 “O mais precioso fruto da santificação é a graça da mansidão.” (MCH, pág. 253.) Uma vista de olhos em qualquer dicionário da Língua Portuguesa rapidamente nos convencerá da estreita ligação existente entre paciência e mansidão.
Sem dúvida alguma, Deus conseguiu desenvolver este traço do Seu carácter em Moisés, de forma mais perfeita do que em qualquer outro ser humano. No entanto, mesmo no seu caso, uma falha, embora perdoada, impediu que Deus concretizasse os Seus planos para a vida de Moisés aqui nesta terra. Vemos aqui uma mistura perfeita da justiça e da misericórdia de Deus. “A genuína santificação...não é outra coisa senão uma morte diária do eu e uma conformidade diária para com a vontade de Deus.” (Idem, pág. 248.)
Este princípio da santificação atinge directamente a raiz desta fase da paciência, uma vez que o orgulho constitui o maior obstáculo. Já ouvimos falar do impetuoso Pedro – o homem que falava e agia sempre antes de pensar.
“O mesmo mal que levou Pedro à queda e excluiu da comunhão com Deus o fariseu, torna-se hoje a ruína de milhares. Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável.” (PJ, pág. 154.)
O orgulho e a auto-suficiência trabalham na mente humana de forma oposta à humildade e entrega pessoal. Por isso, sempre que tentamos controlar-nos e falhamos, tentamos com mais energia na vez seguinte. Todo o esforço humano dispendido para se ser paciente nunca produzirá o fruto da paciência. Uma motivação suficientemente forte pode produzir uma aparência de paciência – os vendedores muitas vezes fazem isso. Os clientes podem ser completamente enganados, porque a imagem pública é, muitas vezes, bastante diferente do que somos em casa.
O nosso problema parece ser que o orgulho segue o método da variedade. Ele pode parecer ser humilde, disciplinado, calmo e até mesmo paciente.
“Alguns de nós somos de temperamento nervoso, e somos naturalmente quase como um relâmpago para pensar e agir; mas não permitamos a alguém pensar que não podemos aprender a paciência. A paciência é uma planta que fará rápido crescimento se cuidadosamente cultivada.” (MCH, pág. 97.)
O cultivo é um processo que remove tudo o que prejudica o crescimento desejado da planta. O processo de remoção não é problema para a maioria de nós. O problema é que não estamos dispostos a admitir o que necessita ser removido do nosso carácter, e não estamos dispostos a entregar essas coisas a Deus, para que Ele as elimine. Para que a paciência cresça rapidamente, tem de haver um sincero exame de consciência e disponibilidade para enfrentar os verdadeiros factos.
“Era no ponto em que mais forte se julgava que Pedro era fraco; e enquanto não discernisse a sua fraqueza, não poderia compreender quanto necessitava de confiar em Cristo.” (DTN, pág. 382.)
A paciência pode revestir-se de outras roupagens que devemos examinar.
“Muitos há que, quando reprovados, julgam ser dignos de elogio se recebem a repreensão sem se tornarem impacientes; mas quão poucos recebem a reprovação com coração grato, e abençoam aqueles que os procuram salvar de seguirem por um mau caminho!” (PP, pág. 667.)
É evidente que a paciência toca áreas em que pouco temos pensado. Ela requer mais do que refrear-se de retaliar. A paciência procura olhar para cada pessoa ou situação na melhor perspectiva possível.
Leia Hebreus 11 para ter uma visão da nuvem de testemunhas desde Abel a Samuel e de um exército de homens e mulheres desconhecidos que, por meio de Cristo, venceram Satanás e as suas hostes de anjos malignos. Depois, veja o seu próprio quadro no capítulo 12, onde Paulo diz: “...deixemos todo o embaraço...” – ou seja, todos os obstáculos. Arranque todas as ervas daninhas e lavre o solo duro. Em seguida, ele fala do “...pecado que tão de perto nos rodeia…” Hebreus 12:1. Aqui são mencionados os hábitos da velha natureza, que ainda temos, e que Satanás usa tão frequentemente.
“O egoísmo e o orgulho tomarão posição contra tudo que os aponte como pecado. Não podemos, de nós mesmos, vencer os maus desejos e hábitos que lutam pela predominância. Não nos é possível dominar o poderoso inimigo que nos mantém em escravidão. Unicamente Deus nos pode dar a vitória… Ele não pode, todavia, operar em nós contra o nosso consentimento e cooperação.” (MDC, pág. 142.)
Depois de fazermos tudo isto, podemos então “...correr, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé...” Hebreus 12:1, 2.
Tiago era um dos filhos do trovão. Juntamente com João, seu irmão, ele teria feito descer fogo do céu para destruir aqueles que não aceitaram prontamente Jesus e os discípulos na cidade de Samaria. Mas Jesus conseguiu mudar tudo isso, de modo que Tiago experimentou a obra perfeita da paciência e deixou-nos este conselho: “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.” Tiago 1:4.
Sem Paragem
A lição de que “a verdadeira grandeza consiste na verdadeira bondade” nunca foi fácil de entender. (PR, pág. 521.) Mesmo o orgulhoso rei Nabucodonosor teve de aprender da pior maneira. É natural, ao tentarmos fazer o que é correcto, pensarmos que já atingimos o estado de santidade sugerido por Deus...
“A razão por que muitos nesta época não fazem maiores progressos na vida religiosa é interpretarem a vontade divina como sendo apenas o que eles gostariam de fazer. Presumem estar em conformidade com a vontade de Deus, quando na verdade estão seguindo os seus próprios desejos. Esses não têm conflito com o eu. Há outros que por algum tempo são bem sucedidos na luta contra seus desejos egoístas por prazeres e comodidades. São sinceros e fervorosos, mas cansam-se do contínuo esforço, do morrer cada dia, da incessante labuta. A indolência parece convidativa, repulsiva a morte do eu; fecham os olhos sonolentos e caem sob a tentação em vez de resistir-lhe.” (AA, pág. 565.)
No parágrafo anterior são descritos dois grupos de pessoas. O primeiro, poderíamos classificá-lo como crentes permissivos. Estes são os que nunca, ou raramente, entram em conflito com o eu. Para estes, parece mais fácil apagar a santificação do dom divino da justificação pela fé, do que seguir o convite do Mestre: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me.” Mateus 16:24.
O outro grupo é o dos crentes do terreno pedregoso, que acabam por desistir porque a sua fé não está completamente segura em Cristo. Não conheceram a alegria de renunciar ao eu e de deixar que Cristo carregue o fardo. Nunca descobriram que o Seu jugo é suave e o Seu fardo leve.
A santificação, como processo, vai cada vez mais fundo na nossa vida e requer uma entrega total em cada passo. Obviamente que não é fácil para um coração orgulhoso fazer isto. (CNJ, pág. 33, 34.)
“João e Judas representam aqueles que professam ser seguidores de Cristo. …Ambos possuíam sérios defeitos de carácter; e ambos tiveram acesso à divina graça que transforma o carácter... Um, morrendo diariamente para o eu e vencendo o pecado, era santificado pela verdade; o outro, resistindo ao poder transformador da graça e condescendendo com desejos egoístas, era levado para a escravidão de Satanás.” (AA, 558, 559.)
Sendo que a vida é uma constante tomada de decisões, segue-se, logicamente, que é nesta área que deve começar a morte diária para o eu. Tal como Jesus, o nosso verdadeiro Exemplo, devemos responder prontamente em todas as decisões “não se faça a minha vontade, mas a Tua...” Isto deve ser mais do que uma verbalização de pensamentos. Exige disponibilidade – sob a direcção de Deus – para modificar, abandonar ou executar qualquer plano ou desejo, não importa quão acariciado seja. Requer conhecimento da, e sensibilidade à, vontade de Deus, tal como é revelada na Inspiração; também temos de estar sintonizados com a ténue voz da consciência e avaliar cuidadosamente a Sua orientação providencial. (MJ, pág. 156.)
Seguindo este processo, a graça de Deus “atrairá a nossa mente para o Céu, e habituá-la-á a meditar em coisas puras e santas.” (Test., vol. 2, pág. 478, 479.) Ser semelhante a Deus não é fazer o que Cristo fez, mas sim viver da maneira que Cristo viveu. Precisamos de entender claramente o conselho dado por Paulo em Colossenses 3:3, 4 para vivermos uma vida de santidade: “Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.”
A que glória se referia Paulo? “Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória.” Colossenses 1:27.
Que privilégio podermos ser usados por Deus para revelar o Seu carácter a um mundo incrédulo. “Jesus não revelou qualidades, nem exerceu poderes que os homens não possam possuir mediante a fé n’Ele. A Sua perfeita humanidade é a que todos os Seus seguidores podem possuir, se forem sujeitos a Deus como Ele o foi.” (DTN, pág. 664.)
Isto é a verdadeira santidade, não o tentar ser bom ou fazer coisas boas, mas o morrer diariamente para o eu – tendo plena confiança em Deus. “Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos.” Provérbios 23:26. Ficaríamos maravilhados com a acção de Deus na nossa vida, se parássemos de tentar e começássemos a morrer – sendo submissos a Deus como Jesus foi.
Há, no entanto, um factor que atrapalha realmente, ao tentarmos dar este passo – o compromisso. Esta é uma das mais eficientes armas usadas por Satanás para impedir que o cristão faça os progressos espirituais que Deus deseja que ele faça. A vida de Jesus nunca, em momento algum, mostrou qualquer tipo de compromisso com o mal. Ele estava inteiramente dedicado a fazer a vontade do Seu Pai. As Suas palavras, “...deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu...” Salmo 40:8, representam a única atitude correcta, aceitável à Sua vista. Obediência relutante não é obediência.
“Quando, por contrariarem a inclinação humana, os reclamos de Deus são considerados um fardo, podemos saber que a vida não é uma vida cristã. A verdadeira obediência é a expressão de um princípio interior. Origina-se no amor à justiça, no amor à lei de Deus. A essência de toda a justiça é lealdade ao nosso Redentor.” (PJ, pág. 97.)
Os discípulos primitivos, os reformadores e o povo de Deus de todas as épocas, enfrentaram a tentação de Satanás para comprometerem a sua lealdade a Deus. Muitas vezes, é naquilo que pensamos ser o nosso ponto forte que Satanás descobre a nossa fraqueza.
Analisemos de novo a experiência de Pedro, sob um outro aspecto.
“Era no ponto em que mais forte se julgava que Pedro era fraco; e enquanto não discernisse a sua fraqueza, não poderia compreender o quanto necessitava de confiar em Cristo. Houvesse ele aprendido a lição que Jesus lhe buscou ensinar naquele incidente no lago, e não teria fracassado quando a grande prova lhe sobreveio.” (DTN, pág. 382, itálico acrescentado.)
Agora podemos entender melhor as palavras de Cristo a Paulo em 2 Coríntios 12:9: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza...” E Paulo responde, no versículo seguinte: “...porque quando estou fraco, então sou forte.” Versículo 10. Vemos que o único caminho para a santidade é através da morte diária para o eu. Não, aqui não há lugar para paragens. Este degrau da escada apenas abre os nossos olhos para a maravilhosa paisagem que está à nossa frente, quando a presença de Cristo em nós se tornar a chave prática para alcançarmos a semelhança com Deus.
Sugestões práticas
Em pequenos grupos, analisem os pontos seguintes:
1) O que é a paciência?
2) Porque é que é importante no carácter cristão?
3) Qual a relação entre paciência e orgulho?
4) Qual a relação entre paciência e mansidão?
5) Como se obtém a paciência e para que serve?
6) Podemos ser cristãos apenas quando nos convém?
7) Há alguma coisa que possa parar o nascimento do cristão?
8) Já analisou os seus pontos fortes? Até que ponto são fortes?

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