quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Discípulos crescentes com a aprendizagem transformacional.


Clarence foi pela primeira vez à igreja após ter sido desafiado.

Prometeu ao seu amigo pastor, que daria uma hipótese à igreja, se o pastor ganhasse uma partida de damas. O pastor ganhou, e Clarence foi à igreja na semana seguinte. Respondeu ao chamado de Deus, e ao amor da congregação, que o levou ao batismo, assim como a sua mulher e filhos.

Passadas algumas semanas, Clarence foi ter com o seu pastor com uma dúvida que perturbava o seu coração. Ele não sabia como viver uma vida Cristã. “Antes de ser batizado” disse ele, “se viesses ter comigo e me dissesses que querias ser jogador de futebol, não te teria deixado somente fazer isso, mas ter-te-ia mostrado como ser um jogador. Preciso que alguém me mostre como ser Cristão.”

A maior parte das vezes, aqueles como nós, que estão na liderança espiritual podem realmente partilhar com os seus membros porque é importante ser um discípulo de Cristo. A maior parte das vezes, ficamos aquém em ensinar os nossos membros como serem discípulos. Os dois são fundamentais para o amadurecimento do Cristão. Mas como é que nós, enquanto pastores, podemos nos guiar pela chamada “aprendizagem transformacional”, aprendizagem orientada não só para informar, mas também para transformar?

Sendo editor e trabalhando com colegas que têm experiência na área da educação, ajudou-me a dar valor à integração dos modelos do ministério da educação e teologia dentro das nossas igrejas. É claro que as Escrituras juntam esses dois modelos do ministério. Em Efésios 4, o apóstolo Paulo diz “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, outros doutores, outros pastores e professores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à maturidade, à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4:11-13, Almeida RC 95) ênfase adicionado.1

Este artigo pretende mostrar como uma integração do ciclo de aprendizagem retirado do modelo do ministério da educação e usado para promover a aprendizagem transformacional, pode realçar as perspectivas pastorais no ensino e na pregação e assim ajudar os membros da igreja a compreender o evangelho e adquirir a maturidade para se tornarem discípulos confirmados em Cristo.

O que é o ciclo de aprendizagem?

As pessoas aprendem através de vários métodos. No início doas anos 70, David Kolb identificou dois estilos de aprendizagem: percepção e processamento.2 A maneira como as pessoas percebem e processam a informação constitui o seu “estilo de aprendizagem.”

Alguns têm uma percepção da vida através dos seus sentidos e sensações – pela experiência directa (de modo subjectivo). Outros têm uma percepção da vida através do entendimento (de modo objectivo) ao conceptualizar ou pensar. A maior parte de nós utiliza estes dois filtros misturados, mas favorecemos mais um do que outro.
As pessoas processam novas experiências através da reflexão (observando) ou através da acção (fazendo) – ou através dos dois.3
Por exemplo, enquanto que o meu marido e eu partilhamos o mesmo estilo de percepção da vida, através da experiência directa, temos uma forma diferente de a processar.

Ele processa as novas experiências através da acção ao contrário de mim que o faço através da reflexão. As duas formas são legítimas. Assim, quando vamos à praia, é o primeiro a ir para a água. E geralmente a praia inteira fica a sabê-lo, uma vez que tem dificuldade em esconder o seu prazer pela vida, e grita com entusiasmo quando entra na água! “Anda Bonita, a água está boooooooa!” Eu, por outro lado, aguardo e observo a situação por um instante antes de me sentir suficientemente confortável para ir. O meu diálogo interno segue mais ou menos estas linhas: Tudo bem, Bonita, parece que não há corrente, o Roy ainda está de pé...Está um dia de sol, logo não vou morrer de frio na água...não há muitas pessoas, por isso não tenho de me desviar delas. Uma vez que fiz esta reflexão, geralmente estou pronta para enfrentar esta nova experiência, a não ser que tenha um livro para ler, aí, esqueçam a água.

Da mesma forma que o meu marido e eu temos uma percepção e um processamento das experiências de maneira diferente, também os membros da igreja têm essas divergências. São destas duas formas, ou até mesmo de mais. Alguns querem agir, fazer e experimentar; outros querem reflectir e observar antes de experimentar. Alguns ainda querem pensar na experiência mais do que outros antes de fazerem alguma coisa. E temos também aqueles que preferem pensar e reflectir em vez de agir.

Utilizando a teoria de Kolb como fundamentação, Bernice McCarthy, em 1987 descreveu quatro estilos básicos de aprendizagem e a correspondência estratégica mais eficiente de ensino para as pessoas aprenderem. De acordo com McCarthy, cada estilo de aprendizagem coloca várias perguntas e implica vários esforços durante o processo de aprendizagem. Estes estilos de aprendizagem utilizam tanto o lado direito do cérebro como o esquerdo no processamento das técnicas.4 Assim, quando integramos os quatro estilos de aprendizagem, nos nossos sermões e ensino, estamos a educar “o cérebro inteiro.” 
O aluno interactivo coloca a seguinte questão, “Porque este tema é importante para mim?” O aluno analítico pergunta, “O que preciso saber sobre este tema?” O aluno pragmático pergunta, “Como é que utilizo a informação?” O aluno dinâmico pergunta, “E se usasse a informação desta maneira?”

O meu estilo de aprendizagem principal é o interactivo, em segundo lugar vem o dinâmico. Assim sendo, como pregadora sou geralmente boa a responder pela minha congregação às perguntas, “Porque este tema é importante?” e “E se usasse esta informação desta maneira?”. Também não sou má no estilo analítico ao responder a “O que preciso saber?” Infelizmente sou a maior parte das vezes má a responder à pergunta “Como é que utilizo esta informação?”

Assim, quando preparo os meus sermões, tenho que ser intencional e tentar relacionar-me com o aluno pragmático.

Já ouviram membros da igreja dizerem do Pastor, “Ele é um homem bom, mas não consigo aprender nada com os seus sermões?” ou então “Os seus sermões são demasiados ‘vazios’, ‘superficiais’ ‘são apenas histórias’, ou então ‘é irrelevante para a minha vida’".

Primeiro, temos que ter consciência que nunca vamos conseguir alcançar toda a gente. No entanto, quando começamos a compreender melhor o ciclo de aprendizagem, conseguiremos realizar que uma das razões pelas quais as pessoas sentem-se assim, é porque a maior parte das vezes, saltamos uma ou mais componentes do ciclo. Quando começamos a integrar cada componente na nossa pregação, mais ouvintes conseguirão relacionar-se com a mensagem.

Como utilizar o novo ciclo de aprendizagem
Como incorporar o modelo educativo nas nossa pregações?

Primeiro, visitem o site referido nas notas deste artigo, e tire partido do estilo de aprendizagem. Conseguirá assim ter um melhor entendimento do vosso próprio processo de aprendizagem, assim como das necessidades dos outros. Encontrará também no site, mais artigos explicando este conceito.
Segundo, pense nas quatro perguntas do conceito do ciclo de aprendizagem, à medida que prepara o esquema do sermão.
Após ter escolhido a exegese do texto, questione-se, Porque é que o meu ouvinte vai achar este tema importante? O objectivo desta pergunta é despertar interesse no tópico e preparar o ouvinte para o que seguirá. A maior parte das vezes a história introdutória responde a esta pergunta. Assim, a finalidade de uma história (ou ilustração) introdutória não deve ser somente para "entreter."

Com uma fraca introdução, o ouvinte poderá não se sentir suficientemente interessado para continuar a ouvir. Na terminologia dos escritores a introdução consiste no “gancho” que prende o ouvinte.

A pergunta seguinte é, O que é que o meu ouvinte precisa saber sobre este tema? Os professores dizem-nos que a homilética é o “Corpo” ou “Argumento” do sermão. Nesta secção, vamos dar-lhe a informação, os factos, definir e esmiuçar o tema. Várias técnicas poderão ser usadas, inclusive a comparação e o contraste, relacionados com outros temas ou até mesmo ilustrando o nosso ponto de vista. Como discípulo experimental posso dizer que mesmo apreciando a ênfase recente da nossa igreja na experiência da salvação e na nossa relação com Deus, em alguns casos podemos ter ido ao extremo e não demos aos nossos membros factos suficientes acerca da sua fé.

A nossa próxima pergunta é, Como é que o meu ouvinte vai usar a informação no seu dia a dia? Isto representa a aplicação da secção do nosso sermão. Recentemente encontrei algo de interessante quando lia um dos meus livros de pregações. Enquanto que as outras partes da preparação do sermão estendia-se numa ou duas páginas, o elemento da aplicação tinha dois parágrafos!

Esta componente, quando forte, incentiva a acção, não somente “dizer o que é preciso, mas agir como é preciso”. É neste ponto que queremos convencer os nossos membros que irão ser beneficiados se aplicarem a mensagem nas suas vidas.

A última pergunta para criarmos o nosso esquema é, E se o meu ouvinte puser em prática esta informação, como é que vai influenciar a sua vida? Acredito que isto possa ser a nossa conclusão. Como um dos professores de homilética costumava dizer, a conclusão consiste em “Algumas frases ou ilustrações escolhidas a dedo que dêem uma ideia central e um propósito ao sermão.”5 Uma forte conclusão no sermão é tão importante como uma forte introdução. Enquanto recapitulava o meu sermão, Que imagem vou deixar na minha congregação? Como é que as suas vidas vão ser depois de aceitarem esta mensagem?

Terceiro, uma vez que usou o esquema para criar o rascunho do seu sermão, peça ajuda ao seu cônjuge ou ancião para avaliar o seu desempenho. O seu cônjuge pode já ter dado uma opinião não solicitada, e os oradores precisam disto! Mas tentem ser intencional ao pedir ajuda. Peça a várias pessoas cujos estilos de aprendizagem sejam diferentes dos seus. Use os comentários dessas pessoas como meio para descobrir uma possível falha no seu sermão. E também ainda sobra tempo para fazer as alterações necessárias antes da pregação.
O momento da pregação
Pregar a palavra de Deus permanece um profundo privilégio, uma experiência sobrenatural. Deus usa os nossos talentos, a nossa personalidade, as nossas experiências de vida, e até mesmo as nossas fraquezas para executar a Sua vontade na vida do Seu povo. Mas ao delegar os Seus poderes, Deus não nega a necessidade de fazermos o que podemos para sermos o veículo mais eficaz através do qual conseguimos realizar esta missão. O Espírito trabalha através dos ciclos de aprendizagem, e por vezes o Espírito até trabalha através de uma partida de damas.

Notas:
1. Para um excelente artigo sobre estes dois ramos do ministério, ver George Knight’s “Two Ministries, One Mission”, Ministry, December 2010.
2. http://effective.leadershipdevelopment.edu.au/david-kolb-learning-styles/experiential-learning/.
3. Charles Betz with Jack Calkins, “Leading Adult Sabbath School” (Lincoln, NE: Advent Source, 2001), 20.
4. Ver Dr. McCarthy’s office Web site em http://www.aboutlearning.com.

5. Williams Evans, How to Prepare Sermons (Chicago: The Moody Bible Institute, 1964), 90.

Recursos:
• Para descobrir o seu estilo de aprendizagem vá até http://bit.ly/ghWXHU.

• Para uma estrutura de currículo do Discípulo Crescente que o ajude a crescer e amadurecer com base no ciclo de aprendizagem, ir a www.growingfruitfuldisciples.com.

Autora: Dra Bonita Shields

Tradução: Cátia Santos



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